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A endometriose e a fisioterapia pélvica, qual a relação?

Atualizado: 7 de abr. de 2021

Se tem endometriose, a fisioterapia pélvica pode ser uma boa ajuda na gestão dos sintomas e melhoria de qualidade de vida. Não cura, é verdade, mas pode ajudar muito.



O QUE É ENDOMETRIOSE?


A endometriose é tecido do endométrio (revestimento do útero) que migra para o exterior do mesmo e cresce em zonas como o útero, as trompas de Falópio, os ovários, os ligamentos útero-sagrados, nos espaços entre a bexiga, o útero, a vagina e o reto. Menos comumente mas também pode envolver, o intestino, o apêndice ou diafragma e o cérebro.

A endometriose é uma doença grave que afeta mais de 200 milhões de pessoas. Afeta mulheres no seus anos reprodutivos e é comumente diagnosticada entre 25-35 anos, mas pode começar a afetar o corpo da mulher logo desde a primeira menstruação.

Apesar de alarmante, é uma doença falada menos que o necessário, o que leva a que um grande número de mulheres viva permanentemente com dores incapacitantes e sem diagnóstico.




QUAIS OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA ENDOMETRIOSE?


Dor e cólicas incapacitantes durante a menstruação e/ou nos dias que a antecipam

Fluxo menstrual intenso e/ou irregular

Dor na ovulação ou nos dias que a antecipam

Alterações gastrointestinais

Dor durante ou depois das relações sexuais

Dor na região pélvica, lombar e/ou coxas e pernas

Dor ao urinar

Frequência e/ou incontinência urinária

Desafios na fertilidade

Fadiga persistente




ENTÃO, E QUAL É O PAPEL DA FISIOTERAPIA PERANTE UMA PESSOA COM ENDOMETRIOSE?


Spoiler: a fisioterapia não cura endometriose.

Spoiler 2: nada cura, lamento, mas há muito que se pode fazer. Aquilo que podemos fazer é ajudar a gerir e controlar os seus sintomas.

As disfunções do pavimento pélvico, que podem relacionar-se com uma boa parte dos sintomas acima referidos, são comuns em mulheres com endometriose.

A dor abdominal/pélvica/lombar, dificuldade em urinar e/ou defecar e relações sexuais dolorosas são os sintomas mais comuns em que a fisioterapia pode ter um papel importante.

Antes de lhe dizer para se despir e deitar e a/o sobrecarregar de técnicas passivas, vou querer sentar-me ao seu lado e escutar toda a sua história, desde a sua primeira menstruação. Tenho tempo, vontade de escutar e não julgo, estou aqui para ajudar.

Quero saber que exames, tratamentos e/ou cirurgias já fez e como se sente em relação a isso.

Não tem que me responder a tudo, gosto de saber de si, coloco muitas questões, mas tento não ferir suscetibilidades. Quero saber do seu contexto familiar, profissional, pessoal, sexual, do ciclo menstrual, fertilidade, da sua alimentação e hidratação. Quero também saber os seus objetivos e o que espera de mim. Depois disto, vamos em conjunto delinear um plano para melhorar a sua saúde e qualidade de vida.


Gestão da dor

O planeamento do seu processo terapêutico, não será (apenas) feito para si, mas sim por si, connosco a ajudar. Tudo o que é proposto deve ser claro e consentido por si.

A dor é uma experiência complexa e multifatorial, que não pode cingir-se ao binómio corpo-mente. Não está no corpo nem na mente, pois não se dissocia uma porção da outra. A dor é uma experiência única de cada pessoa. E deve ser vista como tal.

A maneira como a dor se expressa pode dar-nos informação muito útil. É uma resposta da pessoa e é afetada pela quantidade de ameaça sob a qual esta se encontra. A experiência de dor pode ser afetada pelo seu contexto, familiar, social, económico, emocional, pelo seu grau de conhecimento em relação à sua doença e até pela linguagem que eu utilizar consigo.

Não quero com isto dizer que não teremos em consideração que há alterações no corpo (nos tecidos, nos órgãos e estruturas) que a levam a ter dor, mas forma como a gere, depende de muitas coisas.

Por esta razão, devemos considerar todos os aspetos da sua história e estilo de vida, quando delineamos um plano.


Exercício e movimento

O movimento, a atividade física, o exercício, são sem dúvida as pílulas douradas menos estimadas do mundo. Claro que com dor de barriga ou cansaço acentuado, mexer pode ser a última coisa que lhe vai apetecer, mas... um estilo de vida mais ativo tem benefícios globais e a longo prazo, com impacto positivo em todas as estruturas e sistemas, no fundo, com impacto global em si, na sua saúde.

Por isso a estratégia aqui é escolher coisas que gosta de fazer, seja ioga, Pilates ou exercício clínico, manter um nível bom de atividade física, com consistência e não necessariamente ir correr quando tem dores de barriga de deitar ao chão. Saiba que, se se mantiver ativa/o, pode chegar a não ter essas dores tão intensas, nem tão incapacitantes.


Exercícios dos músculos do pavimento pélvico

Um dos principais sintomas da endometriose é a dor e com dor é comum que os músculos contraiam como resposta. Se tem endometriose, provavelmente tem dor todos os meses, ou mais frequentemente do que isso, então é provável que este músculos se tornem peritos em contrair e que esqueçam a capacidade de relaxar.

Além disso, as estruturas da bacia, afetadas pela endometriose, são todas próximas e podem até partilhar a mesma inervação, o que significa que, se um órgão está irritado com endometriose (por exemplo, a bexiga), pode haver inflamação, hipersensibilidade e hiperatividade em alguns dos músculos pélvicos inervados pela mesma via nervosa, o inverso também pode ocorrer.

Consultar um/a fisioterapeuta que foque a sua intervenção na área das disfunções do pavimento pélvico pode ajudar bastante com sintomas como a dor e função dos músculos do pavimento pélvico, para uma boa função das estruturas que destes dependem.


As opções de tratamento de disfunções do pavimento pélvico em contexto de fisioterapia pélvica são vastas e dependem dos seus sintomas e dos seus objetivos mas podem ser uma combinação de:

- Estratégias de modificação de hábitos relacionados com a forma como urina ou evacua

- Dessensibilização do sistema nervoso com movimento, terapia manual e exercícios respiratórios

- Relaxamento e mobilidade dos músculos do pavimento pélvico

- Recurso a dispositivos ou equipamentos de biofeeback

- Recurso a dilatadores



Não há um plano e tratamento que sirva a todas as pessoas, nem o de cada uma será estanque, é desenvolvido para ajudá-la/o a atingir seus objetivos. A/o sua/seu fisioterapeuta ajudá-la/o-á neste caminho para que possa desfrutar da sua vida com mais qualidade possível, com menos dor pélvica e sexual, melhor funcionamento da bexiga e do intestinos e menos dores menstruais.

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