Perda Gestacional - permissão para o luto
Uma perda gestacional não é uma experiência positiva, independentemente de ser provocada ou natural, nas primeiras semanas de gravidez ou numa fase mais avançada. Prevalece um profundo sentimento de perda: perda de uma expectativa, às vezes de um sonho, ou de um projeto de vida.
A perda gestacional é um processo muito complexo e individual
A perda gestacional afeta todo o tipo de mulheres e famílias, independentemente da etnia, cultura, religião, idade e saúde materna. A forma como as famílias compreendem a gravidez, o significado que ela tem, varia muito – o que é desejado por muitos, para outros pode deixar um sentimento de ambivalência ou até temor. E como as representações que as famílias têm da gravidez são variáveis, também a perda gestacional pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes.

A investigação tem-se debruçado muito mais sobre as mulheres que têm experiências negativas decorrentes da perda gestacional, não existindo muita literatura acerca daquelas que têm outro tipo de respostas – muito provavelmente isto acontece devido à pressão que a sociedade exerce para que a perda gestacional seja sentida como terrível, partindo do pressuposto de que a gravidez é (tem que ser!) incrível e maravilhosa para a mulher e para as famílias.
Quando falamos de perda gestacional, temos que falar obrigatoriamente em luto.
O luto decorrente da perda de um bebé é diferente do luto dito “normal”, porque na perda gestacional não existe uma típica história partilhada ou memórias de que se possam lembrar. Há só a antecipação de um futuro que, naquele momento, deixou de ser possível.

O luto é considerado um processo saudável e comum na vida das famílias, mas quando a gravidez é muito desejada e o luto não é vivido de forma normativa, pode levar à existência de algumas perturbações psiquiátricas, nomeadamente, a depressão, ansiedade, queixas psicossomáticas, transtorno obsessivo-compulsivo e perturbação do pânico, a par de sentimentos como: solidão, raiva, culpa, vergonha e um sentimento de perda e tristeza profunda.
A cultura também desempenha um papel importante na forma como a perda é entendida, assim como o que é feito a seguir a esta perda: não é comum, por exemplo, enviar flores, um cartão com condolências ou realizar cerimónias após uma perda gestacional.
Inclusivamente, as famílias são aconselhadas a não partilhar a gravidez até à 12º semana, “não vá acontecer alguma coisa”. Enquanto esta recomendação pode ser um fator de proteção, o silêncio pode perpetuar a solidão destas famílias e dificultar o acesso ao suporte social e aos rituais sociais associados à morte de um bebé (por exemplo, um funeral), tão importantes e necessários, se fizerem sentido.
Em Portugal, concede-se uma baixa médica, por perda gestacional,100% remunerada à mulher. Infelizmente não contempla o pai. No entanto, em mas países como a Nova Zelândia, já se deram passos muito importantes, para abordar o o luto de uma forma diferente. Concedem uma licença de luto, de 3 dias, remunerada para todos os intervenientes diretos na gravidez (pai, mãe, barriga de lauger, futuros pais adotivos...).
Para que o processo de luto possa ser bem-sucedido, há quatro etapas necessárias:
1. Aceitar a realidade da perda – contrariando a tendência inicial de negar o que aconteceu.
2. Reconhecer e lidar com a dor – esta tarefa, se não for bem-sucedida, pode despoletar outros sintomas, eventualmente somáticos.
3. Fazer ajustamentos – ajustar a vida a perda sofrida, no dia-a-dia, na identidade de cada um e nos vários papeis que assume: mãe, pai, mulher, homem…
4. Integrar emocionalmente a perda – encontrar paz com o que aconteceu, integrando esta experiência na vida apos a perda.

O/a psicólogo/a pode ser um aliado na vivência destas etapas do processo de luto, facilitando a expressão emocional e a vivência do luto num espaço seguro, sem julgamento, e com toda a empatia merecida.
Se sente dificuldades em lidar com uma situação semelhante, venha conversar connosco.
No Espaço S garantimos um ambiente seguro e acolhedor e queremos ajudar.